
O produtor brasileiro de soja começa dezembro com duas certezas e uma grande dúvida. As certezas: vai colher uma supersafra (177 milhões a 178 milhões de toneladas, segundo Conab e consultorias privadas) e o mundo está nadando em estoques (124 milhões de toneladas globais, recorde histórico). A dúvida: quanto vai sobrar no bolso depois de pagar a conta de produção mais alta dos últimos três anos.
“É o clássico cenário de muito grão e pouco prêmio”, resume Lauro Rezende, analista sênior da Agroconsult. “Quem não travar preço agora e não controlar custo vai trabalhar no vermelho em maio/junho.”
Onde está o preço hoje e para onde vai:
- Paranaguá (28/11): R$ 155,75/saca (melhor preço do ano foi R$ 178 em março)
- Previsão média 2026: R$ 135–140/saca (Cepea, Safras, StoneX)
- Cenário otimista (seca moderada no Sul + China comprando forte): R$ 150 a 160
- Cenário pessimista (safra cheia + China lenta): R$ 120 a 128
A conta é simples: para pagar o custo operacional efetivo (COE) médio de Mato Grosso, 57 sacas/ha em Sorriso, o produtor precisa de no mínimo R$ 133/saca com produtividade de 65 sc/ha. Qualquer preço abaixo disso já com margem bruta.
Os cinco alertas vermelhos para 2026
- Estoques globais recordes: O carryout mundial 2025/26 ficará entre 122 e 125 milhões de toneladas. Nunca na história houve tanto grão sobrando no fim da safra.
- A China ainda hesita: Apesar do acordo EUA-China de 12 milhões de toneladas, Pequim compra devagar e prioriza o Brasil só quando o prêmio cai. Novembro fechou com apenas 62% do volume esperado.
- O custo de produção subiu entre 12 e15%: Fertilizante +8%, defensivos +10%, diesel +5% e arrendamento em dólar em várias regiões. A margem bruta média recuou de 78 para 64 sacas/ha (CNA/Cepea).
- Clima joga contra o prêmio: El Niño ainda ativo até março pode trazer excesso de chuva no RS/PR e atraso de colheita. Qualquer problema de qualidade (umidade alta) derruba o prêmio de exportação.
- Janela de comercialização encurtada: Com a safrinha de milho atrasada entre 15 e 20 dias em várias regiões, a soja de março/abril vai competir com milho no porto. Resultado: fila e desconto.
Estratégia prática para o produtor (o que fazer AGORA)
1. Trave pelo menos de 40% a 50% da safra já
- Melhor janela: contratos março/maio 2026 na B3 ou CPR dolarizada com trading
- Níveis interessantes hoje: R$ 142–145 Paranaguá (já dá margem de 10–12 sacas acima do custo)
2. Reduza custo em 8–10 sacas/ha
- Negocie fertilizante para entrega janeiro/fevereiro (preço caiu 6% nas últimas 3 semanas)
- Use biológicos + fixação biológica de nitrogênio (redução de 15–20 kg de N/ha)
- Faça rotação soja-milho-safrinha intensiva com cobertura vegetal (milho consorciado com braquiária)
3. Monitore três datas-chave
- 12 de dezembro → Wasde USDA (pode cortar yield americano e dar fôlego)
- 10 de janeiro → novo levantamento DA Conab (primeiro número “de campo”)
- 28 de fevereiro → pico de compra chinesa pós-Ano Novo Lunar
4. Diversifique a comercialização
- 30% basis Paranaguá (trava dólar)
- 30% CPR física com trading grande
- 20% Barter de insumos (trava custo)
- 20% livre para oportunizar alta em abril/maio
A frase que resume 2026:
“2026 não vai ser ano de ficar rico com soja. Vai ser ano de não ficar pobre”, – André Pessôa, sócio-fundador da Agroconsult, em webinar em 28/11
O Brasil vai produzir como nunca, exportar como líder absoluto e, pela primeira vez em muitos anos, o grande desafio não será colher, mas remunerar. Quem entender que preço médio de R$ 138 é o “novo normal” e agir rápido sai na frente. Quem esperar R$ 180 como em 2022 vai quebrar a cara.
Produtor: o seguro morreu de velho, mas o teimoso morreu pobre. Trave, corte custo e durma tranquilo. 2026 já começou.