Fruta exótica gera oportunidade a produtores de Itaí

Por: Rogério Cabral

Lichia transformou a cidade em capital nacional da fruta, incentivando novos produtores a investirem

O que começou como uma simples alternativa à produção de maracujá, afetada por uma praga, principal fonte de renda da família de Ricardo Soares de Almeida Pinto, na Fazenda Coatiara, tornou-se referência na economia paulista e nacional. O plantio da lichia, fruta da China, que teve grande aceitação pelos brasileiros, transformou Itaí, no interior de São Paulo, na capital nacional da fruta e tem levado novos produtores a investirem no cultivar.

Em 2024 foi oficializada a Cadeia Produtiva Local (CPL) da Lichia do Alto Paranapanema, que investe em crescimento e competitividade da produção da lichia em 19 municípios da região, com sede em Itaí. Dentre os objetivos estratégicos da CPL, estão a busca de Identificação Geográfica (IG), com o apoio do Sebrae, e o desenvolvimento de protocolo para produção da fruta orgânica, com a assessoria do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da APTA.

“Como a colheita da lichia deve ocorrer na hora em que ela está madura e o prazo de validade é curto, de cerca de cinco dias, a desova de picos de colheita costuma ser desafiadora, principalmente quando o maior volume acontece. A exportação tem sido uma alternativa bem interessante, mas outras saídas seriam existir uma agroindústria processadora de lichia no Brasil – ainda não há – e aumentar o prazo para, pelo menos, 30 dias”, frisou o produtor, que é reconhecido como o maior da América Latina.

A lichia é uma fruta de alto valor agregado, apreciada principalmente nos mercados asiáticos e em países com forte demanda por frutas exóticas, destacando-se pelo sabor doce e aroma marcante. A produção mundial ultrapassa três milhões de toneladas anuais, concentrada principalmente na China, Índia, Vietnã e Tailândia, que juntos respondem por mais de 90% do volume global. No Brasil, embora ainda seja considerada uma cultura em expansão, a produção está em torno de 10 a 15 mil toneladas por safra, concentrada sobretudo em São Paulo e Minas Gerais, com destaque para a região do cinturão verde paulista, responsável por mais de 80% do cultivo nacional.

Além da fruta fresca, vendida principalmente na época do Natal, desde 2020, o produtor comercializa na fazenda a lichia descascada e sem caroço congelada, a noz de lichia (lichia desidratada com casca), além de ter parceria com outras indústrias para a produção de lichia desidratada, kombucha de lichia e aguardente de lichia. Há também a produção do mel de florada de lichia. Desde 2024 ele tem participado das duas maiores feiras de frutas do mundo: Fruit Logistica, em Berlim, e Fruit Attraction, em Madri, além de marcar presença em eventos do agronegócio nacional, como a Agrishow e o Global Agrobusiness Festival (GAFFFF).

Para o presidente do Sindicato Rural de Itaí, Manoel Rahmi Garcia, há um espaço para o crescimento da produção na região. Hoje, frisou, a economia local está baseada nos cultivos de feijão, soja, milho e algodão, entre outros. Entretanto, pelo sucesso da Fazenda Coatiara, há um interesse crescente pela lichia, uma vez que não há finitude de produção por conta do tempo. Na China, por exemplo, árvores de mais de 300 anos continuam produzindo normalmente.

Já segundo o presidente do Sindicato Rural de Piraju, Luiz Otávio Motta, o microclima da região também contribui para o desenvolvimento da cultura. O número de produtores interessados em investir na Lichia tem crescido, consolidando a região como um importante polo.

“A região sempre teve um histórico de cafeicultura e essa migração para a fruticultura se deu porque os equipamentos usados em ambas são os mesmos”, ponderou Motta.

O produtor José Eduardo Ramalho, da Fazenda Belvedere, de Tejupá, tem plantas de 20 a 25 anos e se mantém otimista em relação à cultura. Na realidade, ressalta, é uma das alternativas da fazenda que também tem pecuária e um pouco de lavoura. “A ideia da lichia, bem como a pecuária e lavoura é produzir renda para a propriedade. E a lichia tem o maior potencial de renda no momento”.

Ricardo Soares, por sua vez, tem 117 hectares plantados com 27.000 pés da fruta. Como possui pomares de um a 13 anos, a produtividade é variada, crescendo com a idade, ficando na casa dos 4 mil kg/ha em árvores acima de 10 anos de idade. A proposta é atingir 6 mil kg/ha quando o pomar estiver todo com idade acima de 12 anos.

Os produtores frisam ser necessário maior divulgação das vantagens do plantio da lichia, especialmente naquela região, cujo valor de vendas por hectare pode facilmente superar R$ 40 mil a partir do nono ou décimo ano. Outro ponto que consideram fundamental é a assistência técnica para os produtores novatos na atividade, para que possam atingir estes resultados.

Galeria

José Eduardo Ramalho

Ricardo Soares

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