Drones e câmeras ‘extinguem’ balanças em fazendas de gado

Por: Rogério Cabral

Ao menos três startups buscam espaço no Brasil com tecnologia que elimina a pesagem convencional dos animais

Três startups, uma uruguaia e duas brasileiras, têm desenvolvido tecnologias que podem tornar obsoletas as balanças que os pecuaristas utilizam para pesar animais no campo. Cada uma das ferramentas tem seus diferenciais competitivos, mas as três podem ser uma alternativa à pesagem convencional, uma tarefa que, por ser muitas vezes demorada e estressante para os animais, acaba sendo um fator de redução da produtividade.

A startup uruguaia Ganader-IA, que desenvolveu um serviço de pesagem de gado que funciona com base em drones e inteligência artificial, tem operações no Uruguai e também na Argentina, dois dos mais tradicionais mercados da pecuária na América do Sul, além de Chile e Colômbia. Agora, a empresa trabalha para estrear no mercado que tem o maior rebanho bovino comercial do mundo.

“Temos vontade de chegar ao Brasil e ao Paraguai. Depois, mais a longo prazo, queremos ter presença global”, disse ao Valor Erik Wansart, gerente de desenvolvimento de negócios da agtech. Segundo ele, a empresa está com “negociações avançadas” para entrar no Brasil, país com um rebanho de 238,2 milhões de cabeças de gado.

A startup oferece um software que se assemelha a um site, onde o produtor tem acesso a todas as informações do peso e contagem de cada gado do seu rebanho. Para isso, o produtor deve ter um drone.

Erik Wansart, da Ganader-IA: startup uruguaia está em negociações avançadas para entrar no mercado brasileiro — Foto: Ganader-IA/Divulgação

Durante o voo, o equipamento filma os bois. O software da Ganader-IA utiliza inteligência artificial para analisar o rebanho e contar e estimar o peso dos animais.

O projeto nasceu na Universidad ORT, de Montevidéu. Os alunos receberam o desafio de criar tecnologias que resolvessem problemas relacionados a saúde, turismo ou pecuária. “Descobrimos que os custos e o tempo para mobilizar um rebanho, somados ao estresse dos animais, faziam com que a tarefa tradicional de pesagem fosse um problema nas fazendas”, disse Wansart.

O treinamento da inteligência artificial levou dois anos, e há seis meses os desenvolvedores chegaram a um modelo 100% funcional. A inteligência artificial é capaz de analisar entre 300 e 400 animais a cada 30 minutos, com margem de erro que fica entre 0% e 5%. Os produtores consideram essa média tolerável, afirma Wansart, mas, segundo ele, a empresa trabalha para reduzir esse índice, até que seja possível usar a ferramenta para certificar lotes que os criadores vendem a frigoríficos.

No Brasil, a Olho do Dono opera com uma tecnologia similar, que tem como objetivo substituir as balanças tradicionais. Câmeras com visão computacional pesam e acompanham o desempenho de bovinos e suínos.

Com operações no Brasil, na Argentina e no Paraguai, a startup atende clientes que têm rebanhos com pelo menos 500 cabeças de gado. Neste ano, a ferramenta da agtech já pesou 500 mil animais, estima Pedro Henrique Mannato, o principal executivo da empresa. A meta é chegar a 1,5 milhão em 2026.

A empresa concluiu neste mês uma rodada de investimento de R$ 2,2 milhões, liderada pela BR Angels. Com os novos recursos, a Olho do Dono quer passar a atender fazendas menores. “Após o investimento, estamos criando modalidades para atender pequenos produtores”, diz Mannato.

Segundo ele, com a ferramenta, o trabalho de pesagem do rebanho leva apenas 15 minutos. Essa é uma pequena fração do tempo que o produtor leva para fazer a pesagem tradicional, que chega a demorar oito horas. “A tecnologia também reduz a perda de bois, já que a frequência do monitoramento é alta. Todos esses diferenciais podem ajudar o produtor a acelerar o retorno do investimento”, afirma.

A startup goiana Gado Pesado, que tem operações em 60 fazendas no Brasil, distribuídas por dez Estados, e três propriedades no Paraguai, também apostou na tecnologia — e já tem entre seus clientes a JBS. A gigante de carnes contratou o serviço de pesagem de gado por imagem para oferecer a produtores de Rondônia. Segundo Adrielly Santos, diretora-executiva da startup, nessas propriedades, o número de balanças de pesagem é baixíssimo.

Adrielly Santos, diretora-executiva e Thiago Gratão, diretor de tecnologia da Gado Pesado com o ‘kit câmera’ — Foto: Gado Pesado/Divulgação

A Gado Pesado oferece pacotes de serviços que custam a partir de R$ 720 por ano. Para a captação das imagens, os criadores também precisam comprar uma câmera, que custa R$ 2,5 mil. Como os custos são baixos, a empresa tem conseguido atender também pequenos produtores, conta a executiva.

“No manejo atual, o pecuarista não tem tempo de sobra para saber o que está ganhando ou perdendo. Nossa plataforma mostra a evolução do rebanho, faz as contagens e pesagens e agenda futuras pesagens”, relata.

Fonte: Globo Rural

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