Pela primeira vez desde o início da série histórica do IBGE, o abate de vacas superou o de bois no Brasil. Os dados mais recentes, que são referentes ao segundo trimestre de 2025, apontam que o abate total de bovinos cresceu 3,9% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para o analista da Scot Consultoria, Felipe Fabre, o avanço está diretamente ligado ao ciclo pecuário de preços e ao desestímulo à retenção de matrizes para a produção de bezerros.
“Esse abate acelerado de fêmeas é reflexo do ciclo pecuário de preços. Desde 2023, o cenário tem sido de desestímulo à retenção de vacas e novilhas. Além disso, a alta recente da arroba estimulou ainda mais o descarte, já que muitos pecuaristas buscaram recompor o caixa”, explica.
De acordo com Fabre, a maior participação de fêmeas nos abates reduz o rendimento médio das carcaças. Enquanto os abates subiram quase 3%, a produção de carne aumentou apenas 1,5% no primeiro semestre de 2025.
“A carcaça da fêmea é menor e tem rendimento mais baixo que a do macho, o que limita o crescimento da produção”, completa.
Tarifaço e novos mercados
O analista destaca ainda que o aumento no abate de novilhas também foi influenciado pela exportação, já que esses animais se enquadram nos critérios exigidos pela China. Após o tarifaço imposto pelos Estados Unidos contra a carne bovina brasileira, houve uma realocação de mercados.
“O México passou a ocupar a segunda posição entre os compradores, a Rússia voltou a comprar bem e a China nunca teve participação tão expressiva. Só entre julho e setembro, os chineses adquiriram mais de 158 mil toneladas mensais, com expectativa de superar 165 mil toneladas em setembro”, afirma Fabre.
Segundo ele, a Indonésia ampliou em 80% o número de frigoríficos brasileiros habilitados a exportar, enquanto o México negocia novas habilitações. Há ainda conversas avançadas com Japão e Marrocos.
Fator China
Fabre avalia que pode haver uma breve desaceleração nos embarques à China no início de outubro, em razão do feriado no país asiático. No entanto, o movimento não seria sinal de queda na demanda.
“O que foi comprado em julho já está em trânsito e deve abastecer o mercado no Ano Novo Lunar, no início de 2026. Outubro tende a ser um mês positivo para exportações e também para o preço do boi gordo”, projeta o analista.