Crises climáticas e juros altos: escritor Augusto Cury alerta para o risco de depressão e suicídio no campo

Por: Rogério Cabral

Psiquiatra defende valorização do agricultor, propõe ferramentas de gestão da emoção e alerta para a urgência de um Ministério de IA no Governo Brasileiro diante da revolução tecnológica

Por Portal do Agronegócio

O produtor rural está submetido a uma pressão “acima da média” que o torna um alvo fácil para desenvolver transtornos emocionais como depressão e ansiedade, segundo definiu o psiquiatra e escritor Augusto Cury, após sua participação como conferencista convidado para o Encontro de Lideranças do Agro Paulista, realizado em 27 de novembro de 2025, em Lins, pela Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo). Autor publicado em mais de 90 países, Cury classificou a pressão imposta por crises climáticas, instabilidade de mercado e juros altíssimos como um estresse que “pressiona o córtex cerebral”, resultando em um índice de suicídios no setor acima da média nacional. Ele defendeu a valorização imediata do agricultor, destacando que a humanidade depende três vezes por dia do seu trabalho.

Participe do canal Portal do Agronegócio

Para Cury, é uma “injustiça” que o produtor rural seja frequentemente visto como “vilão no teatro social”, quando, na verdade, é o responsável por sustentar a vida. O psiquiatra ressaltou que a importância do agricultor será exponenciada, visto que a produção agrícola global precisará aumentar em 60% até 2050 para combater a insegurança alimentar, exigindo dos profissionais do campo uma resiliência inédita.

Diante do estresse altíssimo e dos riscos inerentes à atividade, o especialista listou ferramentas de gestão da emoção. A principal é a determinação: a paz e a saúde emocional “valem ouro” e são “in-ne-go-ciá-veis”. Ele aconselha o produtor a criticar toda “ideia perturbadora”, duvidar de tudo o que o controla e, crucialmente, “não cobrar demais de si”, pois a autocobrança excessiva registra “janelas traumáticas” que podem levar ao “cárcere mental”.

Ministério da Inteligência Artificial

Em uma transição para o futuro, Augusto Cury abordou a Inteligência Artificial (IA), classificando-a como uma “revolução sem precedente” que, nos próximos cinco a dez anos, deve gerar centenas de milhões de desempregos ao atingir a singularidade. No entanto, ele defende que a sociedade deve “aprender a usá-la a nosso favor”, incluindo a robótica na agricultura, que transformará a produtividade no campo. Para aproveitar a onda tecnológica, o psiquiatra sugeriu a criação de um “ministério próprio para a inteligência artificial e para a robótica” no próximo governo, como forma de dominar a tecnologia em vez de ser dominado por ela.

Contudo, Cury fez uma ressalva vital: a IA jamais experimentará medo, dúvida ou insegurança. Ela não conseguirá “entender a dor do outro”, o que torna os educadores e a gestão da emoção humana insubstituíveis. Nessa linha, o psiquiatra divulgou quatro projetos sociais que lidera, destacando o “Touch Peace”, um serviço de escuta ativa para pessoas em risco de suicídio. Ele também mencionou o “Tinkers”, uma metodologia para revolucionar a sala de aula e combater a Síndrome do Pensamento Acelerado, e o “Walk Together”, voltado para a saúde emocional de jovens “nem-nem” (que não trabalham nem estudam).

Cury concluiu a entrevista realizando um apelo para o apoio à proposta da “Lei Augusto Cury”, que será a primeira lei mundial a obrigar uma avaliação pediátrica e psicológica anual de todas as crianças no país. O objetivo é criar uma “escuta ativa e periódica” do governo para rastrear e proteger contra os mais de 700 mil casos estimados de abuso sexual e maus-tratos no Brasil.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *