Agropecuária Tropical: Solução climática e motor de oportunidades no mercado de carbono

Por: Renato Rodrigues

Por Renato Rodrigues, PhD – Head de Agronegócio da Terradot e Professor Convidado da FDC

Este artigo é fruto da palestra apresentada no Rio+Agro 2025 – em 01 de Outubro de 2025 – evento que reuniu lideranças do agronegócio brasileiro e internacional para debater o futuro da produção de alimentos em um mundo marcado pela emergência climática.

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Um agro que vai além da produção

O Brasil já conquistou o posto de potência agrícola mundial. Nossos números impressionam: liderança na produção e exportação de soja, carne bovina, café, açúcar, milho, frango e vários outros produtos. No entanto, ser apenas uma potência agrícola não basta. O século XXI exige mais: exige ser uma potência agroambiental.

A agropecuária tropical tem condições únicas para cumprir esse papel. Nossa biodiversidade, nosso regime de chuvas, a luminosidade e a extensão territorial fazem do Brasil um laboratório vivo de inovação. Mas também enfrentamos desafios enormes: degradação de pastagens, desmatamento ilegal, emissões de gases de efeito estufa e pressão internacional por maior sustentabilidade.

Portanto, a pergunta que orientou minha fala no Rio+Agro foi: como transformar a agropecuária tropical em solução climática e, ao mesmo tempo, motor de oportunidades no mercado de carbono?

A mudança do clima: de problema a oportunidade

A mudança do clima já não é mais uma ameaça distante. É uma realidade concreta. O Brasil tem vivido extremos climáticos cada vez mais severos — secas prolongadas, enchentes devastadoras e eventos extremos que impactam diretamente a agricultura.

No entanto, a agricultura tropical tem algo poderoso a oferecer: ela pode ser parte da solução. Enquanto em muitos países a agricultura é vista apenas como fonte de emissões, no Brasil temos condições de transformar o setor em protagonista da mitigação.

Isso porque nossas práticas produtivas podem sequestrar carbono, recuperar solos degradados e gerar benefícios ambientais que vão além da porteira da fazenda.

As soluções tropicais

Algumas soluções já estão em curso e precisam ser ampliadas:

  1. Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) 
  • Combina diferentes sistemas produtivos em uma mesma área.
  • Recupera pastagens degradadas, aumenta a produtividade e melhora a resiliência climática.
  1. Agricultura Regenerativa 
  • Práticas que promovem saúde do solo, cobertura vegetal permanente e diversidade de culturas.
  • Vai além da sustentabilidade: busca restaurar ecossistemas.
  1. Uso de biológicos e bioinsumos 
  • Reduz dependência de insumos químicos e melhora a eficiência do uso de nutrientes.
  1. Enhanced Rock Weathering (ERW) – Intemperismo Acelerado de Rochas 
  • Inovação com potencial global.
  • Ao aplicar pó de rocha no solo, além de remineralizar e corrigir a acidez, ocorre a captura permanente de CO₂ da atmosfera.
  • É uma solução que conecta ganhos agronômicos e benefícios climáticos, criando uma ponte direta para o mercado de carbono.
  1. Inteligência territorial e dados integrados 
  • Uso de tecnologia para mapear, monitorar e mensurar resultados ambientais, garantindo rastreabilidade e credibilidade no mercado internacional.

Essas soluções posicionam o Brasil como líder não apenas na produção de alimentos, mas na construção de um modelo agroambiental tropical, capaz de inspirar o mundo.

O mercado de carbono como motor de transformação

O segundo pilar da palestra foi o mercado de carbono.

O Brasil deu um passo histórico em 2024, ao regulamentar o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE). Embora o setor agropecuário ainda não esteja incluído de forma obrigatória, as portas estão abertas para que práticas agropecuárias sustentáveis gerem créditos de carbono de alta integridade.

Oportunidades concretas surgem para produtores e empresas:

  • Novas receitas: produtores podem diversificar renda ao gerar créditos de carbono a partir de práticas que já trazem ganhos agronômicos.
  • Reputação e acesso a mercados: cadeias globais cada vez mais exigem comprovação de sustentabilidade. Carbono e rastreabilidade serão requisitos de competitividade.
  • Finanças verdes: bancos e investidores estão atentos a ativos sustentáveis. Projetos agroambientais tendem a atrair capital em condições mais favoráveis.

No caso do ERW, por exemplo, o potencial é gigantesco. Se o Brasil aplicar essa tecnologia em escala, pode remover milhões de toneladas de CO₂ ao mesmo tempo em que fortalece a fertilidade de solos tropicais. Trata-se de um exemplo claro de ganha-ganha: produtor, sociedade e planeta.

O papel das instituições e da governança

Mas não basta apenas a tecnologia. É preciso criar um ecossistema institucional sólido.

  • Parcerias público-privadas devem estruturar programas que levem inovação ao campo.
  • Instituições de pesquisa como a Embrapa e universidades precisam continuar avançando na ciência aplicada.
  • Cooperativas e associações de produtores são canais estratégicos para difundir práticas sustentáveis em larga escala.
  • Empresas e investidores têm papel crucial no financiamento e na adoção de soluções em escala.

O Brasil precisa também garantir que o mercado de carbono seja robusto, transparente e confiável, evitando riscos de greenwashing. Credibilidade é a chave para transformar oportunidade em legado.

Brasil: seremos a maior potência agroambiental do planeta?

Ao final da palestra, destaquei que a missão do Brasil é ir além da potência agrícola. Temos todas as condições para sermos reconhecidos como a maior potência agroambiental do planeta.

Esse futuro exige visão de longo prazo. Precisamos articular políticas públicas, pesquisa científica, inovação empresarial e engajamento de produtores. O agro brasileiro não pode se contentar em ser seguidor: deve assumir o papel de protagonista global na agenda de sustentabilidade e clima.

Chamado à ação

O recado que deixei no Rio+Agro — e que reforço agora neste artigo — é claro:

  • Produtores rurais: vejam a sustentabilidade como oportunidade de negócio, não apenas como obrigação.
  • Empresas: invistam em inovação e em cadeias transparentes.
  • Política e sociedade: apoiem uma visão de futuro em que a agropecuária tropical é motor de desenvolvimento sustentável.

O Brasil tem diante de si um caminho único. Não se trata apenas de produzir mais, mas de produzir melhor. Não se trata apenas de competir no mercado global, mas de liderar uma transformação civilizatória: a de alinhar produção de alimentos, conservação ambiental e estabilidade climática.

A agropecuária tropical pode, sim, ser a solução climática que o mundo procura. E o mercado de carbono pode ser o motor econômico dessa transformação.

O desafio está lançado. A escolha é nossa.

📌 Nota do autor: Este artigo reflete a palestra apresentada no Rio+Agro 2025, sob o tema “Agropecuária Tropical: Solução Climática e Motor de Oportunidades no Mercado de Carbono”.

 

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