As mulheres e o agro sustentável

Por: Rogério Cabral

Por Tirso Meirelles, presidente do Sistema Faesp/Senar

O setor agropecuário encontra-se no centro de uma transformação ambiental, social e produtiva que redefine sua própria identidade e seu papel diante da crise climática global. Por muito tempo, o agro foi apontado exclusivamente como parte do problema; hoje, com base em ciência, tecnologia e governança, demonstra que pode — e deve — ser parte da solução. No Brasil, essa responsabilidade é ainda maior. O país abriga uma das maiores áreas agricultáveis do planeta, possui biomas com elevada capacidade de sequestro de carbono e construiu, nas últimas décadas, um conjunto robusto de práticas sustentáveis que o posicionam como referência internacional. A COP30 intensifica esse protagonismo e adiciona uma camada imprescindível ao debate: a justiça climática com foco no fortalecimento da participação das mulheres.

O uso racional do solo, a integração lavoura-pecuária-floresta, o plantio direto, a bioeconomia, a intensificação sustentável e a recuperação de pastagens degradadas são apenas alguns exemplos de como o setor agropecuário brasileiro tem evoluído. Essas práticas não apenas reduzem emissões, mas também aumentam resiliência, ampliam produtividade e preservam recursos naturais. Contudo, a transição para modelos sustentáveis não ocorre automaticamente. Ela depende de assistência técnica, pesquisa aplicada, acesso ao crédito verde e políticas públicas estruturadas. E depende, sobretudo, de pessoas — de líderes capazes de promover diálogo, disseminar conhecimento e perceber o território em toda sua complexidade. As mulheres sempre estiveram na base da produção e da gestão da terra. Agora, com protagonismo reconhecido, assumem o papel de liderar uma nova etapa: a de um agro que cresce com consciência, equidade e compromisso ambiental.

A justiça climática reconhece que os impactos das mudanças climáticas não são homogêneos. Comunidades vulneráveis — entre elas, um enorme contingente de mulheres rurais, agricultoras familiares, indígenas, quilombolas e assentadas — são as que mais sofrem com eventos extremos, escassez hídrica, perdas produtivas e degradação ambiental. Ao incluir as mulheres nos espaços de formulação de políticas e nas decisões técnicas, é possível construir respostas mais equilibradas e justas. As mulheres trazem uma percepção ampliada dos impactos sociais, entendem a dinâmica das famílias rurais, têm experiência acumulada na gestão dos recursos naturais e, historicamente, desenvolvem uma relação mais cooperativa e sustentável com a terra.

Além disso, a presença feminina no agro tem rompido paradigmas e ampliado a capacidade de inovação em todo o setor. Cada vez mais, mulheres assumem posições de liderança na gestão de propriedades rurais, no uso de tecnologias digitais, na condução de processos de rastreabilidade, na coordenação de cooperativas e associações e na formulação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Essa participação qualificada gera um efeito multiplicador: quando uma mulher tem acesso a conhecimento, tecnologia e poder de decisão, os benefícios se estendem à família, à comunidade e a toda a cadeia produtiva.

Na COP30, cujo foco recai sobre a construção de soluções equitativas para a crise climática, o Brasil tem a chance de apresentar ao mundo um modelo em que produtividade e inclusão caminham lado a lado. Demonstrar que o agro brasileiro consegue ampliar produção preservando florestas, recuperando áreas degradadas e reduzindo emissões enquanto incorpora as mulheres no centro das decisões é demonstrar maturidade ambiental e social. A justiça climática não é apenas conceito político; é prática cotidiana que exige representatividade e legitimidade. E a Comissão Semeadoras do Agro da Faesp estará lá para mostrar o trabalho que vem sendo desempenhado com excelência no interior paulista.

Ao fortalecer a participação das mulheres no setor e garantir seu acesso a terra, tecnologia, educação, crédito e assistência técnica, o país cria um ambiente fértil para acelerar a transição para uma agropecuária de baixo carbono. O futuro do agro — e, em grande parte, o futuro climático do planeta — dependerá da capacidade de conciliar eficiência produtiva, respeito ao meio ambiente e inclusão.

O Brasil possui vocação e responsabilidade para liderar a transição climática global, demonstrando que é possível produzir mais e melhor com inclusão e equilíbrio ambiental. Essa liderança, contudo, só se concretizará plenamente quando a equidade de gênero for reconhecida como parte essencial da justiça climática. As mulheres não podem ser vistas apenas como destinatárias de políticas, mas como protagonistas de sua formulação e execução. São elas que impulsionam o campo, traduzindo em prática o compromisso do agro brasileiro com um futuro sustentável e socialmente justo.

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