Acordo com UE cria maior zona de livre comércio do mundo

Por: Rogério Cabral

São mais de 700 milhões de consumidores que terão acesso, com tarifas reduzidas, a produtos dos dois blocos comerciais

É grande a expectativa dos produtores rurais em relação a aprovação, pelo Parlamento Europeu, do Acordo Mercosul – União Europeia, que irá criar a maior zona de livre comércio do mundo, com mais de 700 milhões de consumidores. Pelo documento, haverá a eliminação gradual de tributos sobre 91% dos produtos da União Europeia, e de 92% sobre produtos do bloco sul-americano, escalonado num prazo de 10 a 15 anos. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), Tirso Meirelles, acredita que esse será um caminho importante para os produtores rurais.

O acordo Mercosul–União Europeia, assim como outros tratados bilaterais de livre comércio, representa um instrumento estratégico para o produtor rural, pois amplia mercados, reduz barreiras tarifárias e cria condições de previsibilidade para a comercialização. Para o agronegócio, especialmente em setores como carnes, grãos, frutas e produtos de valor agregado, a abertura e consolidação de canais formais com grandes blocos econômicos asseguram competitividade internacional, permitindo que a produção excedente encontre destinos garantidos. Isso reduz a dependência de mercados específicos e fortalece o planejamento de médio e longo prazo do produtor, que passa a investir com maior confiança em tecnologia, qualidade e sustentabilidade. Da mesma forma, explicou Meirelles, torna-se um ganha-ganha, já que, por conseguir realizar três safras no mesmo espaço, o agro brasileiro será um garantidor da segurança alimentar da Europa, em caso de necessidade.

“Os acordos bilaterais são fundamentais para a diversificação de mercados dos produtores rurais, pois ampliam as oportunidades de exportação e reduzem a dependência de poucos destinos, tornando o escoamento da produção mais estável e previsível. Essa abertura comercial estimula o investimento em qualidade, inovação e sustentabilidade, permitindo que o agro atenda às exigências internacionais e conquiste nichos de maior valor agregado. Como resultado, o setor ganha em desempenho e competitividade global, fortalecendo a economia rural e assegurando maior protagonismo do Brasil nas cadeias internacionais de alimentos e commodities”, explicou Meirelles.

Além disso, a diversificação proporcionada por esses acordos bilaterais é fundamental para proteger o produtor rural contra oscilações de preços e crises regionais. Com a possibilidade de escoar sua produção para diferentes países e blocos, o agricultor e o pecuarista têm mais segurança de que sua produção será absorvida, o que estimula a continuidade da atividade e gera estabilidade econômica no campo. Dessa forma, acordos como o Mercosul-UE não são apenas instrumentos de política externa, mas também ferramentas diretas de desenvolvimento rural, fortalecendo a renda, a permanência do produtor na terra e a integração do agro brasileiro às cadeias globais de valor.

O acordo é visto pela presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, como marco importante para o futuro, capaz de consolidar a União Europeia como o maior bloco econômico do mundo. Num momento de crescente instabilidade geopolítica, estes acordos, segundo Úrsula, “aproximam-nos de parceiros estrategicamente importantes, proporcionando uma plataforma partilhada para reforçar a confiança mútua e enfrentar desafios globais comuns, incluindo a modernização do sistema de comércio mundial baseado em regras”.

A mesma opinião tem o coordenador da Comissão Técnica de Cafeicultura da Faesp, Guilherme Vicentini, que vê no acordo uma forma de garantir ao produtor a continuidade no campo. Para ele, quantos mais acordos forem feitos, melhor a condição do homem do campo, que tem à sua frente um portfólio de mercados para exportação, ganhando em rentabilidade nessa competitividade entre destinos.

Novas oportunidades

Segundo a diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, a perspectiva do acordo é muito positiva. O fato do Mercosul ter esse benefício tarifário coloca os produtores rurais numa vantagem, porque hoje a União Europeia já é o segundo principal destino das nossas exportações, sem benefício tarifário. E ela adianta que a abertura desse mercado acelera outros acordos, ou acordos que já começaram, mas estavam na perspectiva dessa formalização.

“A gente sabe de países que estavam negociando, estão negociando com o Mercosul, que estavam aguardando, inclusive, o desdobramento deste acordo com a União Europeia para acelerar o seu processo. Soma-se a isso, também, tudo que está acontecendo na geopolítica atual e essas novas reconfigurações, aumentando ainda mais a importância de acordos dessa natureza”, concluiu Sueme.

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