Mesmo com quebra, açúcar deve ter superávit global de quase 3 milhões de toneladas

Por: Rogério Cabral

O mercado global de açúcar deve ter um superávit de 2,8 milhões de toneladas (valor bruto) na temporada 2025/26, diz projeção da StoneX.

De acordo com o analista de Inteligência de Mercado da empresa Marcelo Di Bonifácio Filho, mesmo diante de uma safra 2024/25 deficitária, o mercado vem sendo pressionado pela combinação de estoques elevados e ritmo lento de importações globais.

“Os aspectos de trade flow [fluxo comercial], portanto, vem sendo muito mais impactantes ao mercado neste momento e podem ser balizadores para a trajetória dos futuros daqui para frente”, considera.

Segundo ele, nos últimos meses, compradores internacionais têm mantido importações em ritmo mais fraco, aproveitando os preços baixos e evitando movimentos que pudessem gerar “gatilhos” de alta.

Bonifácio Filho destaca que esse comportamento é resultado do excedente produtivo de 2023/24, aliado às exportações recordes do Brasil em 2024, que contribuíram para a formação de estoques elevados nos principais mercados consumidores.

Já do lado da oferta, a safra atual do Centro-Sul brasileiro segue historicamente volumosa em moagem. Entre abril e agosto, o setor registrou uma maximização inédita do mix açucareiro, com o indicador acumulado ultrapassando 52%.

“Esse aumento na produção de açúcar reforça a tendência de preços mais baixos no médio prazo, especialmente considerando a expectativa de um ciclo positivo a nível global para 2025/26”, observa o analista.

Brasil lidera nas Américas

O Brasil segue como protagonista na produção de açúcar nas Américas. Segundo as primeiras estimativas oficiais da StoneX para a safra 2026/27 (abril a março) no Centro-Sul, a moagem deve crescer mais de 20 milhões de toneladas, com recuperação no ATR e um mix açucareiro que, apesar de uma leve queda, seguirá elevado.

De acordo com Bonifácio Filho, esse desempenho será fortemente impulsionado pelo avanço do etanol de milho, cuja produção deve alcançar 11,4 milhões de m³ na temporada.

Assim, com esse aumento, o Centro-Sul tende a elevar significativamente os volumes de açúcar ofertados no próximo ano, atingindo 41,7 milhões de toneladas na safra internacional 2025/26 (outubro a setembro).

Para Bonifácio Filho, essas projeções, ainda que preliminares, são fundamentais para o cenário atual de preços. “O crescimento estimado para 2026 no Centro-Sul brasileiro dá suporte aos níveis atuais do mercado e garante o superávit previsto”, diz.

Estimativa de produção de açúcar na Índia

Desde julho, o clima na Índia tem se mantido dentro do esperado. Em agosto, as chuvas ficaram 5% acima da média, favorecendo os canaviais, especialmente em Maharashtra, após um julho de precipitações irregulares.

De acordo com a StoneX, no sul daquele país, os reservatórios seguem em níveis elevados, impulsionando tanto o desenvolvimento das lavouras para a safra 2025/26 quanto o plantio para 2026/27. Já em setembro, as precipitações começaram a cair em Karnataka e Maharashtra, cenário positivo para a possível antecipação da colheita, caso o clima mais seco se mantenha em outubro.

Com o clima dentro do previsto, a StoneX mantém sua estimativa de produção de açúcar em 32,3 milhões de toneladas, considerando 4,5 milhões de toneladas desviados para etanol.

“Agora, as atenções se voltam à decisão do governo sobre exportações, já que a Isma [Indian Sugar Mills Association] solicitou 2,0 MMt, embora o cenário seja pouco viável economicamente, pois a paridade de exportação segue na faixa de US¢ 17-18/lb, acima dos preços atuais em Nova York”, diz a empresa, em nota.

Déficit global

A StoneX também divulgou a 8ª revisão do saldo global de açúcar 2024/25 (outubro a setembro), temporada que está praticamente concluída.

De acordo com o levantamento, o déficit global projetado é de 4,7 milhões de toneladas, resultado da queda combinada na produção do Brasil e da Índia, que, juntos, registraram retração de 9,3 milhões de toneladas em valor bruto: “Esse cenário reduziu o potencial exportável dos dois maiores players globais”.

Para os próximos meses, os fluxos de comércio serão determinantes na formação dos preços. De acordo com Bonifácio Filho, no quarto trimestre, espera-se um leve aperto entre o volume disponível para exportação e a demanda, com a redução nas vendas brasileiras durante a entressafra do Centro-Sul e estoques mais baixos na Tailândia, cuja produção se intensifica apenas no início de 2026.

“Além disso, a oferta de açúcar refinado deve enfrentar riscos, já que a menor compra de açúcar bruto pelas refinarias pode limitar o volume disponível para reexportação. Caso a demanda por branco cresça no final de 2025 e início de 2026, a pressão altista pode aumentar, tornando o Diferencial Londres-NY (prêmio do branco) um indicador-chave a ser monitorado”, conclui o analista.

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