Embora o tarifaço preocupe o setor de proteína animal, especialmente o de carne bovina, os impactos nos mercados de aves e suínos devem ser mínimos. Sobre essa afirmação, Alexandre Camargo Costa, médico-veterinário e sócio-diretor da FNF Ingredients Brasil, é bastante enfático. “Os EUA são nossos concorrentes, não nossos clientes”, diz.
A expansão da carne de frango, por exemplo, pode acontecer com a suspensão do embargo das nossas exportações para a União Europeia. A possibilidade decorre do reconhecimento do Brasil como livre da gripe aviária pelo bloco no começo de setembro. O status permite o retorno dos embarques brasileiros da proteína. Para Costa, além da possibilidade de aumentar a produção, a medida também abre espaço para o redirecionamento de cortes entre mercados.
“Não é um salto de produção imediato, mas melhora o mix e o preço nas plantas habilitadas, usando capacidade ociosa e contratos de longo prazo. Além disso, redirecionar os cortes para UE, Oriente Médio e Sudeste Asiático suaviza picos de oferta interna e sustenta margens ao longo de 2025/26”, afirma.
Novos destinos para a carne bovina
Além de China e União Europeia, a carne bovina brasileira desperta interesse em países do Oriente Médio, Norte da África, América Latina e Ásia. Segundo o especialista, há demanda tanto por carne de dianteiro para processamento quanto por cortes premium para foodservice e varejo.
“Programas halal e padronização de especificações têm acelerado habilitações, enquanto o câmbio competitivo e a previsibilidade sanitária sustentam o ganho de participação”, avalia.
Em 2024, o Brasil exportou cerca de 2,89 milhões de toneladas de carne bovina, com receita de US$ 12,8 bilhões, aproveitando uma diversificação gradual além do mercado chinês. Os dados são da Secretária de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
Espaço deixado pelos EUA
Com menor oferta exportável dos Estados Unidos, o Brasil encontra oportunidade para ocupar nichos estratégicos, principalmente em cortes de dianteiro e carne para processamento. Mercados como Golfo, Egito, Hong Kong e Filipinas já demonstram apetite por esse tipo de produto, enquanto a Ásia mantém demanda consistente por brisket e short plate.
Para Costa, o diferencial brasileiro está na combinação de custo competitivo e regularidade de entrega. “O Brasil consegue ofertar volume estável, com contratos halal de ciclo curto no Golfo, programas de qualidade para varejo no Chile e nas Filipinas e fornecimento contínuo de subprimes para a China”, explica.